terça-feira, 18 de maio de 2010

Cara de pau

                                                                     I

Ângelo Inácio era, quando vivo, repórter. E não é por que morreu que vai entregar os pontos. Por isso,  decidiu que, vez por outra, publicaria uns livros, por meio da psicografia. Do além, ele continua sua atividade jornalística. Que interessante, não é?

O médium que recebe as reportagens em forma de romance chama-se Robson Pinheiro. Mineiro, Terapeuta Holístico, Robson teve, no início da sua carreira vida espiritual, orientação kardecista. Hoje, suas obras tendem em uma direção mais ampla, o espiritualismo universalista, sem essas bobagens sectárias.

Vejam vocês: uma das reportagens do espírito Ângelo Inácio transformou-se no livro “Tambores de Angola”. O romance retrata uma casa umbandista e as suas entidades. Além de passagens de extremo lirismo ( “O sol se assemelhava a um deus guerreiro, lançando as suas chamas que aqueciam as moradas dos mortais, como dardos flamejantes que ameaçavam as vidas dos homens”), o autor nos dá valiosíssimos ensinamentos morais( “Por todo lugar onde há o sentimento religioso, manifestam-se pessoas inescrupulosas, que abusam da fé alheia.”). Que interessante, não é? Vão anotando.


A obra, é claro, fez bastante sucesso. Afinal de contas, é preciso desesperadamente justificar que a Umbanda não é coisa de pobre, e sim algo científico. É claro que nesse processo, tudo o que é de preto e de índio vai ficando pra escanteio. Em uma passagem do romance, a questão fica clara:



Quando o tal filho-de-santo desencarna, encontra-se prisioneiro dessas entidades que se manifestam como santos ou orixás; passa a ser presa deles nas regiões pantanosas do além-túmulo. Em processos difíceis de descrever, inicia-se um intercambio doentio de energias entre os dois e – posso lhe afirmar – se não fosse pelos caboclos e pretos velhos auxiliados pelos guardiões na tarefa abençoada de resgatar esses filhos, dificilmente os pobres se veriam livres da simbiose espiritual que lhes infelicita a existência deste lado da vida. Às vezes por anos ou séculos, mantêm-se prisioneiros nas garras de entidades perversas e atrasadas que quando encarnadas, alimentaram com o sangue de animais inocentes e outras exigências esdrúxulas de espíritos que deles se aproveitavam.”

Que interessante, não é?


                                                                                II



Outra obra de Robson Pinheiro chama-se “Aruanda”. Nesse romance, também psicografado, a cara de pau sensibilidade espiritual do autor está insuperável! Vejam vocês que em um dado momento do enredo, uma entidade espiritual explica ao defunto repórter Ângelo Inácio sobre o arquétipo dos orixás. Acompanhem:

“ o arquétipo de Ogum é o das pessoas enérgicas, às vezes briguentas e impulsivas. Perseguem seus objetivos sem se desencorajar facilmente; nos momentos difíceis, triunfam onde qualquer outro teria abandonado o combate e perdido toda a esperança. Os filhos de Ogum, como se costuma dizer, são indivíduos de humor mutável e transitam com naturalidade de furiosos acessos de raiva ao mais tranqüilo dos comportamentos. Finalmente, Ogum é o arquétipo das pessoas impetuosas e arrogantes, que tendem a melindrar os outros por uma certa falta de discrição, quando alguém lhes presta serviços. Francos e sinceros ao extremo, não pensam duas vezes antes de se expressar, mesmo sob o risco de ofenderem as pessoas com as quais se relacionam.”

Um orixá muito conhecido pelo Brasil afora é Iemanjá, representativo da polaridade feminina por excelência. As filhas de Iemanjá costumam ser voluntariosas, fortes, rigorosas, protetoras, altivas e, algumas vezes, impetuosas e arrogantes. Fazem-se respeitar e são justas, mas bastante formais. Têm o hábito de por à prova as amizades que lhe são devotadas, mas preocupam-se muito com os outros; são sérias e maternais.”
Abrindo o livro “Orixás” de Pierre Verger, assim define o arquétipo dos filhos de Ogum :



o arquétipo de Ogum é o das pessoas violentas, briguentas e impulsivas. Das pessoas que perseguem energicamente seus objetivos e não se desencorajam facilmente. Daquelas que nos momentos difíceis, triunfam onde qualquer outro teria abandonado o combate e perdido toda a esperança. Das que possuem humor mutável passando de furiosos acessos de raiva ao mais tranqüilo dos comportamentos. Finalmente, é o arquétipo das pessoas impetuosas e arrogantes, daquelas que arriscam a melindrar os outros por uma certa falta de discrição...”


Lydia Cabrera também escreveu sobre o arquétipo de Iemanjá. Vejam:

“ As filhas de Iemanjá costumam ser voluntariosas, fortes, rigorosas, protetoras, altivas e, algumas vezes, impetuosas e arrogantes. Fazem-se respeitar e são justas, mas bastante formais.Põem à prova as amizades que lhes são devotadas(...). Preocupam-se com os outros, são maternais e sérias(...).”


Lembra "Pierre Menard, autor do Quixote", aquele conto do Borges...Que interessante, não é?


                                                                              III


Fiquei muito triste. Não pude, por motivos profissionais, comparecer ao workshop que Robson Pinheiro ministrou no centro espírita Manoel Bento, em SP. O curso—agendado para os dias 1, 2, 15, 16, 29 de maio—versaria sobre “Metafísica, Desdobramento Induzido e Apometria”. O investimento é de R$ 450,00. Mas o preço compensa: no fim do curso, o aluno recebe gratuitamente uma foto kirlian. Que interessante, não é?

8 comentários:

Diego Moreira disse...

Pau na canalha!

Filipe disse...

Poderia até acrescentar algo sobre esse assunto, mas falta-me tempo e paciência pra esse tipo de gente.

Um nojo! Um nojo!

Pau na canalha!!!!!

Alan disse...

Diegão,

Os livros do Robson Pinheiro são um prato cheio...Precisando das fontes, estamos aí! ;)


Couto,

Dá uma canseira, eu sei, mas nesse caso, é questão de utilidade pública. O sujeito tá brincando com a fé alheia, coisa que reputo como canalhice maior.

Tem coisa que só a violência resolve, né?

Assunção disse...

Alan, estive aqui. Abraço pra vc. Luiz.

Maria disse...

Li os dois livros. Sou Kardecista mas tenho um profundo respeito pelo Candomble' e pela Umbanda (religiao genuinamente brasileira). Comecei a desconfiar do embuste quando vi um livro em que o autor pretende estar psicografando Cazuza. Se eu fosse a mae dele (Cazuza), entraria com um processo. Infelizmente, ha' muita gente que usa a religiao de modo indevido, tais como os Gasparettos. Enfim, acredito na lei divina. O plano espiritual esta' vendo...

Alan disse...

Luiz,

Mestre, forte abraço! Seja sempre bem-vindo!

Maria,

Do Cazuza eu não sabia não...Impressionante! Vamos fazer o curso de Metafísica e Desdobramento Induzido com o guru-Pinheiro?

Seja sempre bem-vinda!

Prof. Robson Santos disse...

Lamentável essa enxurrada pela dita 'psicografia' de Robson Pinheiro...é mais uma literatura umbandista com aproximação ao Espíritismo, mas não Espíritismo...e porque nos posicionamos assim essa turma nova, diga-se Wanderley, Robson, Carlos Bacelli, Carlos Pereira utilizam da falácia de que estamos sendo conservadores, ortodoxos...se o que eles trazem é progresso, prefiro permanecer com as bases kardequianas e com outros autores mais seguros menos ficcionistas e comerciais...

Alan disse...

Professor Robson,

Concordo que não é literatura espírita. Mas também não é umbandista.

É mercantilista.

Um abraço!